quarta-feira, 13 de julho de 2011

Pensando e repensando as práticas de planejamento pedagógico

“... exigem a presença de educadores e educandos

criadores, investigadores, inquietos, rigorosamente

curiosos, humildes e persistentes.Faz parte das

condições em que aprende criticamente é

possível a pressuposição por parte dos educandos de

que o educador já teve ou continua tendo experiência

da produção de certos saberes e que estes não

podem a eles, os educandos, ser simplesmente transferidos. (...)

Quem ensina aprende ao ensinar e

quem aprende ensina ao aprender alguma coisa a alguém.”

(PAULO FREIRE, 1997)


A escola é um espaço de convivência social, onde vários sujeitos estão inseridos, e, portanto está em constante movimento. São diferentes culturas, diversas idades e crenças, diferentes classes sociais e étnicas, histórias e bagagens de vida de intensidades diversas, convivendo em um ambiente único. A escola precisa saber acolher e trabalhar com esse grupo de sujeitos heterogêneo, de forma a possibilitar um caminho onde as diferenças se tornem igualdades na busca de oportunidades de alcance e apropriação do saber universal, sem, contudo, ignorar o conhecimento prévio dos participantes desse processo.

A escola enquanto instituição social tem como objetivo primordial a Educação. Educação formadora de sujeitos, participativos na instrumentalização socioeconômica, política e cultural da sociedade. Cabe, pois, à escola construir conhecimentos, desenvolver habilidades, competências e promover mudanças de comportamento necessárias para o desenvolvimento de uma consciência crítica e reflexiva nos sujeitos a ponto de que estes sejam capazes de transformar a realidade. Medina (1995) contextualiza afirmando que,

A escola é um lugar no qual o trabalho de ensinar e educar significa uma incursão exploratória no mundo, compreendido, vivido e aspirado pela comunidade para a qual se destina. Para isso, a escola considera o aluno que aprende como sujeito que também ensina e o professor que ensina como sujeito que também aprende. Essa relação de ensinar e aprender ou aprender e ensinar transforma a sala de aula num espaço de debates, reflexões e sistematizações das experiências que possibilitam ao aluno dominar o conhecimento e buscar referencia para o seu projeto de vida. (p.150)

Nesse sentido, se torna necessário que a Escola esteja organizada como uma unidade concisa, onde existam setores/departamentos distintos, com funções determinadas de forma clara, para que assim o objetivo maior seja alcançado de forma positiva. Os aspectos organizacionais, administrativos e pedagógicos precisam estar coordenados a fim de produzir um processo de aprendizagem efetivo e com objetivos determinados. Direção, supervisão, orientação, corpo docente e discente, funcionários e comunidade precisam caminhar de forma uniforme na busca dos seus objetivos. Vitor Henrique Paro (1997) afirma que,

À escola não faz falta um chefe, ou um burocrata; à escola faz falta um colaborador, alguém que, embora tenha atribuições, compromissos e responsabilidades diante do Estado, não esteja apenas atrelado ao seu poder e colocado acima dos ideais. (p. 10)

Uma das peças fundamentais na engrenagem de funcionamento da escola, enquanto instituição em busca de qualidade é o planejamento das práticas pedagógicas desenvolvidas. Trabalhar coletivamente, apesar de ser muito mais vantajoso para a escola como um todo, não é uma tarefa sempre fácil. A idéia de que através de uma ação pedagógica planejada coletivamente a escola se fortalecerá, se organizará e produzirá um trabalho pedagógico de maior qualidade precisa ser aplicada e desenvolvida de forma mais efetiva em nossas escolas.

A autonomia de planejamento pedagógico assegurada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9394/96 – reconhece a escola como espaço legítimo para a elaboração do seu projeto pedagógico, porém a participação efetiva dos educadores na implementação do mesmo ainda é baixa. A construção das práticas pedagógicas não pode ser realizada apenas por uma pessoa, necessita sim de todos os participantes dos segmentos.

Pensar e repensar as práticas de planejamento pedagógico não pode ser visto apenas como uma atividade de preenchimento de papéis para “agradar”, precisa ser vista sim como uma atividade de necessidade extrema para o sucesso das práticas pedagógicas desenvolvidas, devendo permear todas as atividades escolares, servindo dessa forma de instrumento permanente de construção e desenvolvimento dos projetos escolares: Plano de Desenvolvimento da Escola (PDE), Projeto Político e Pedagógico,...

O fazer cotidiano das práticas pedagógicas escolares deve acontecer na reflexão conjunta de todos os segmentos escolares que participam cotidianamente das atividades desenvolvidas no ambiente escolar. Devendo dessa forma, existir oportunidades para discussão sobre os fatos, possibilidades de trabalho, revendo continuamente a relação teoria e prática. Só se estabelece uma identidade clara das metodologias a serem adotadas através da práxis.

A educação, como processo de ensino e aprendizagem, é uma realidade que está em constantes transformações e evoluções. Pensar e repensar a prática pedagógica, torna-se imprescindível, deve se tornar motivo constante de debates e de aprimoramento permanente de seus profissionais. A educação é também um espaço para descobertas obtidas através da participação e colaboração ativa de todos os segmentos.

É, portanto, através de um ensino organizado, planejado e participativo que o sucesso das práticas pedagógicas ocorrerá. O confronto de opiniões, a motivação, as interações sociais e o trabalho cooperativo possibilitarão aos educadores trocas, aperfeiçoamento e aprimoramento de suas práticas pedagógicas diárias, buscando dessa forma o sucesso escolar dos educandos. Concluo com uma reflexão a cerca do papel de cada um na engrenagem das práticas desenvolvidas em nossas escolas: qual o nosso papel? Planejamento é realmente necessário?...

Quem é quem?

Autor desconhecido

Era uma vez uma empresa que tinha quatro funcionários chamados: Todo Mundo, Alguém, Qualquer Um e Ninguém.

Havia um importante trabalho a ser realizado e Todo Mundo estava certo de que Alguém o faria. Qualquer Um poderia tê-lo feito, mas Ninguém o fez...

Alguém ficou zangado com isso, pois era um trabalho de Todo Mundo.

Todo Mundo pensou que Qualquer Um poderia fazê-lo, mas Ninguém imaginou que Todo Mundo não o faria.

A história termina com Todo Mundo culpando Alguém quando realmente Ninguém poderia ter responsabilizar Qualquer Um.

Referências Bibliográficas:

FREITAS, Ana Lucia Souza. Pedagogia da Conscientização – Um legado de Paulo Freire à formação de professores. Porto Alegre, RS: Edipuc.

http://moodle.regesd.tche.br/course/view.php?id=265

PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática na Escola Pública. IN: Cadernos Temáticos da Constituinte escolar-1. Porto Alegre: SEC, 2000.

MEDINA, Antonia da Silva. Supervisão escolar: da ação exercida à ação repensada. Porto Alegre, RS: Edipucrs,1995.

‎"...Nada do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: Colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida..." [Cora Coralina]

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pensando Projetos...


O que significa trabalhar com Projetos?
A palavra projeto significa uma “ideia que se forma de executar ou realizar algo no futuro; plano, intento, desígnio”; um “empreendimento a ser realizado dentro de um determinado esquema”; “redação ou esboço provisório de um texto”.Logo o projeto didático torna-se uma forma de organização e planejamento do tempo e dos conteúdos que envolvem uma situação de ensino aprendizagem.

Denominações de Projetos:
Projetos de trabalho
Metodologia de projetos
Pedagogia de projetos
Alguns autores utilizam a terminologia pedagogia de projetos, projetos de trabalho ou projetos de ação. O importante é que mais do que uma estratégia sujeita a regras predeterminadas, os projetos refletem uma atitude pedagógica fundamentada numa concepção de educação que valoriza a construção do conhecimento.

Projeto de trabalho baseado em Hernández:
Escolha de um tema: É o ponto de partida para a realização de um Projeto. Pode pertencer ao currículo oficial, proceder de uma experiência comum dos alunos, originar-se de um fato da atualidade ou surgir de um problema proposto pela professora, o importante é que ele seja de interesse, necessidade e relevância a todos os que nele estarão trabalhando, o que implica na possibilidade de haver vários temas de Projetos dentro de um mesmo grupo.
Planejamento do Trabalho: Etapas/objetivos/conteúdos:, conteúdos e as etapa após a escolha do tema, planeja-se o trabalho definindo objetivos em que o mesmo será realizado.
Problematização: Levantamento de como estudar o tema escolhido – quais as ideias, dúvidas e conhecimentos prévios que os alunos têm sobre o mesmo.
Execução: Busca de informação, pesquisa, sistematização e produção: esse é o momento de o grupo desenvolver as questões levantadas na fase da problematização. Nessa fase, é fundamental a atuação do educador no acompanhamento do desenvolvimento do trabalho de tal forma que suas intervenções levem os educandos a confrontar suas ideias, suas crenças, e conhecimentos com as informações levantadas através das pesquisas realizadas, analisando-as e relacionando-as a novos elementos. A sistematização das informações auxilia educador e educando a responderem às questões iniciais e às novas questões que surgirem no processo da pesquisa sobre o tema, contribuindo na sua produção.
Divulgação: Viabilizar a divulgação dos resultados dos Projetos de Trabalho tem como objetivo socializar o conhecimento produzido pelo grupo. Pode ser feita através de dossiê e discussões. As pesquisas e os resultados obtidos não devem ser limitadas ao espaço da Instituição, pois a interação com a Comunidade é importante. Nela encontramos condições reais sobre as discussões realizadas. Além disso, através da divulgação dos resultados, dá-se concretude e sentido às produções do grupo, promovendo a auto-estima dos alunos e atribuindo um significado maior às suas produções.
Avaliação: A avaliação consiste em constatar o envolvimento do aluno com o desenvolvimento do Projeto e os conhecimentos adquiridos com a execução do mesmo em relação aos seus conhecimentos prévios e os objetivos propostos.

Pensando nos Projetos em Artes Visuais:
A palavra Projeto contem intencionalidade, nesse sentido pode ser relacionada com a Arte, uma vez que a Arte é “um tal fazer, que enquanto faz inventa o por fazer e o como fazer”. (Pareyson, 1984).
Os projetos representam propostas interdisciplinares, que são ampliados pelas perspectivas dos vários campos do conhecimento, e nesse sentido a Arte pode ser valiosa.
Transformar as aulas de Arte em atividades globalizadas de ensinar e aprender, com situações de aprendizagem articuladas, continuamente avaliadas e replanejadas, como nas práticas de projetos, pode se tornar uma eficiente atitude pedagógica.
Fernando Hernández (2000, p.183) afirma que: “nessa forma de conceber a educação, os estudantes participam de um processo de pesquisa, que tem sentido para eles e elas (não porque seja fácil ou porque gostem disso), e utilizam diferentes estratégias de pesquisa; podem participar do processo de planejamento da própria aprendizagem, e lhes auxilia a serem flexíveis, reconhecer o outro e compreender seu próprio meio pessoal e cultural.”

Referências Bibliográficas:
HERNANDEZ, Fernando e VENTURA,Montserrat. A organização do currículo por projetos de trabalho. O conhecimento é um caleidoscópio. Porto Alegre: Artmed, 1998.
HERNANDEZ, Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
MARTINS, Mirian Celeste, PICOSQUE, Gisa, GUERRA, M.Terezinha Telles. Teoria e prática do ensino de Arte. São Paulo: FTD, 2009.




Escola libertadora e escola libertária...

Tendência Progressista Libertadora
Papel da Escola: Atuação não formal. Percepção e questionamento da realidade para transformação social. Educação crítica.
Conteúdos: São retirados da prática, da realidade dos alunos. Caráter político.
Método: O diálogo entre professor e aluno é a base metodológica. Como é considerado um animador o professor deve trabalhar no nível dos alunos.
Professor x Aluno: Relação horizontal, sendo assim, os dois são sujeitos do conhecimento. Não há autoridade.
Pressupostos: Educação problematizadora, que se dá a partir da codificação da situação problema. Conhecimento da realidade. Processo de reflexão e crítica.
Prática Escolar: Seu inspirador é Paulo Freire. Movimentos populares: sindicatos, educação para adultos, há professores que vêm tentando colocar em prática todos os graus de ensino formal.

Tendência Progressista Libertária:
Papel da Escola: Mudança na personalidade do aluno, alterações institucionais à partir dos níveis subalternos.
Conteúdos: As matérias ficam à disposição dos alunos, porém não são cobradas, depende do interesse de cada um.
Método: Vivência grupal na forma de auto-gestão.
Professor x Aluno: É não diretiva, o professor é orientador e os alunos livres.
Pressupostos: Aprendizagem informal, relevância ao que tem uso prático. Tendência anti-autoritária. Crescer dentro da vivência grupal.
Prática Escolar: Trabalhos não pedagógicos mas de crítica as instituições. Relevância do saber sistematizado.
Freinet, Miguel Gonzales Arroyo .

O que fica desta forma de concepção do ensino em artes visuais é que, nas propostas Libertadora e Libertária, a arte/educação abrange as produções culturais marginais ou consideradas indignas da arte/educação e propõe uma perspectiva transdisciplinar na qual a compreensão cultural seja impossível sem a sua contextualização.
É necessário que as artes visuais sejam ensinadas através do pensamento de rede, onde o aluno é ensinado vinculado ao seu cotidiano e a produção contemporânea.
As pedagogias Libertadora e Libertária direcionam a aventura, a liberdade, a criatividade, a busca de situações novas, o respeito à sujeitos encontrados no percurso.
Elas nos levam a uma arte embasada na auto reflexão, na desconstrução e na construção, onde a permanente mutabilidade de todos os sujeitos envolvidos no processo educativo permitem a apropriação de diferentes conceitos que evoluem de acordo com as experiências de cada um.



quinta-feira, 19 de maio de 2011

Educar para a compreensão da Arte...

“Subitamente vemos que a obra do artista nos revela que captamos a nós próprios;

e então compreendermos que toda a criação,

todo o pensamento humano está contido em nós.”

(Jacob Bronowski)

A educação, como processo de ensino e aprendizagem, é uma realidade que está em constantes transformações e evoluções: “os seres humanos constroem o conhecimento a partir do fato de viverem em contextos transformados pelas concepções, ações e artefatos produzidos pelas gerações precedentes.” (p.104)

Pensar e repensar a prática pedagógica, torna-se imprescindível diante de tal situação, deve se tornar motivo constante de debates e de aprimoramento permanente de seus profissionais. Apropriar-se dos estudos realizados por pensadores da área da educação, pode nos auxiliar com sucesso na formação do profissional que queremos ser, nas nossas práticas e condutas pedagógicas.

Jean Piaget destaca em suas idéias que o conhecimento é construído pelo aluno e não transmitido pelo professor, como ocorre na visão tradicional de ensino. Cabe, pois, ao professor oferecer aos alunos atividades onde os mesmos possam agir, construindo e reconstruindo conceitos e hipóteses, assimilando, acomodando e equilibrando as aprendizagens adquiridas a cerca do mundo que os cercam. O professor precisa elaborar atividades onde ocorram ações sobre os objetos de conhecimento/aprendizagem, não esquecendo, porém de observar o nível de desenvolvimento dos educandos, proporcionando conteúdos pedagógicos proporcionais as suas capacidades cognitivas e lhes oferecendo o suporte e os estímulos necessários para o desenvolvimento de suas capacidades. “A educação se concebe assim como um processo de adaptação e acomodação da mente a algumas estruturas de conhecimento (Piaget), mas como um processo dialético em que o sentido e o significado das estruturas de conhecimento se reconstroem na consciência histórica dos indivíduos que tratam de dotar de sentido suas situações vitais.” (p.106)

Kincheloe desenvolve em seus estudos a pedagogia crítica o construtivismo crítico. Segundo ele “o melhor caminho para ensinar a interpretar é pela pesquisa de fenômenos que se vinculem a conceitos ou idéias-chave, observando o conceito social de onde os alunos procedem e as vias ou estratégias que podem utilizar na busca de significados sobre os fatos estudados.” (p.108)

Pensar nas práticas de aprendizagem em Artes, partindo do ponto de vista da interpretação e da atribuição de sentido, pressupõem repensar a maneira como as aulas são ministradas. Assim a atribuição de sentidos ocorrerá de forma singular, por meio de uma teia de relações afetivas, conceituais, cognitivas significativas que cada aluno articulará diante da Arte.

A escola é um espaço de convivência social, onde vários sujeitos estão inseridos, e, portanto está em constante movimento. São diferentes culturas, diversas idades e crenças, diferentes classes sociais e étnicas, histórias e bagagens de vida de intensidades diversas, convivendo em um ambiente único. Portanto, as referências pessoais, fundamentadas nas experiências pessoais ou nos referências culturais, provindos do convívio com a cultura de seu entorno, encaminham os alunos a produzirem sentidos e significações aos conhecimentos. Quanto maior o número de possibilidades e referências dos alunos em Artes, maiores e diferentes serão as suas perspectivas de interação.

Referências Bibliográfica:

HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artmed, 2000.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Pensando os PCN


“A arte deve ser à base da educação.” (Platão)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96, em seu parágrafo 2 do artigo 26, onde constam as disposições gerais sobre a Educação Básica, apresentam o ensino da Arte como componente curricular obrigatório, nos diversos níveis da Educação Básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. Dessa premissa, surge à justificativa para a construção dos Parâmetros Curriculares Nacionais, os mesmos apresentam o ensino de Artes como uma área de conhecimento, e como tal com necessidades constantes de planejamento e aprimoramento de seus pares.
A análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais referentes ao ensino de Artes no Ensino Fundamental permite a reflexão e o diálogo a cerca de alguns pontos, que a meu ver são de essência fundamental no trabalho desenvolvido com Artes no ambiente escolar.
Os PCN apresentam alguns apontamentos a cerca da necessidade de entrelaçar a teoria e a prática no ensino de Artes nas escolas, segundo eles existe um descompasso entre as produções teóricas e o acesso dos professores a essas produções, que ocorre devido à fragilidade de suas formações, pela pequena quantidade de livros editados sobre o assunto e pelas visões preconcebidas que reduzem a atividade artística na escola a um verniz de superfície, que visa às comemorações de datas cívicas e enfeitar o cotidiano escolar (PCNS - p.31).


Sabemos que a formação de professores ainda não atende à diversidade da demanda de trabalho das escolas, logo a flexibilidade de adequação as necessidades das escolas se tornam extremamente importante. O descompasso e suas possíveis causas estão presentes no trabalho desenvolvido na maioria das disciplinas escolares, e representa uma das maiores dificuldades para a plenitude das propostas pedagógicas das escolas. Nas artes visuais ainda domina na sala de aula o ensino de desenho geométrico, o laissez-faire, temas banais, as folhas para colorir, a variação de técnicas e o desenho de observação, os mesmos métodos, procedimentos e princípios ideológicos encontrados numa pesquisa feita em programas de ensino de artes de 1971 e 1973 (BARBOSA, 1975, p.86-7). Evoluções não têm lugar em salas de aula nas escolas públicas. Apreciação artística e história da arte não têm lugar na escola.
Outro fator interessante, diz respeito ao aprender e ensinar Arte no Ensino Fundamental, e como esse percurso de criação pode ser importante no crescimento e no desenvolvimento das habilidades dos educandos. Os conteúdos de artes não podem ser banalizados, mas devem ser ensinados por meio de situações e/ou propostas que alcancem os modos de aprender do aluno e garantam a participação de cada um dentro da sala de aula. Tais orientações favorecem o emergir de formulações pessoais de idéias, hipóteses, teorias e formas artísticas (p.47). Desenvolver as habilidades dos educandos, sua criatividade e sua criticidade, são elementos fundamentais no ensino dos anos iniciais, não só na disciplina de Artes, como em todas as que compõem o currículo escolar.
Impossível não refletir a cerca dos objetivos gerais e os conteúdos de Artes a serem desenvolvidos no Ensino Fundamental. Eles enfatizam o ensino de conteúdos que colaborem com a formação de alunos/cidadãos, não determinam de forma rígida as modalidades a serem trabalhadas no ensino de Artes, mas enfatiza a necessidade de o aluno ter oportunidade de contato com o maior número possível de formas de Arte (dança música, teatro, artes visuais,...). Pretende-se com o ensino a compreensão crítica da Arte, em suas diversas linguagens e formas de manipulação, construindo dessa forma um conhecimento abrangente, que considera as diferenças culturais e as vivências do cotidiano, aperfeiçoando os saberes sobre o fazer e o pensar artístico e estético, bem como o conhecimento dos diferentes contextos da produção artística de diferentes tempos históricos e origens distintas. É claro também a necessidade dos conteúdos estarem de acordo com as necessidades e características do grupo de educandos, não esquecendo, porém, que existem conhecimentos básicos a serem desenvolvidos.
A Arte pode se tornar efetivamente importante e necessária ao desenvolvimento do currículo escolar? A resposta, a meu ver, é sim, se o processo de construção de conhecimento for mediado por professores comprometidos com práticas transformadoras. Intenções pedagógicas claras e consistentes, aliadas à cumplicidade com os educandos, tendem a gerar sólidas e enriquecedoras experiências, contribuindo para a construção de trocas e interações. A interdisciplinaridade e as abordagens integradas de ensino de Artes com as outras áreas de conhecimento também devem ser consideradas, uma vez que a Arte se constitui em uma das formas de o ser humano se relacionar com o mundo, com os outros e com os objetos e práticas que circundam o educando, sendo dessa forma facilmente transformada em parceira para a aquisição de conhecimentos em outras áreas.

Os PCNs, tanto os do Ensino Fundamental quanto os do Ensino Médio, trazem expressos competências estabelecidas como referência para o ensino de Artes em todas as esferas de ensino. O conceito é defendido sobre o prisma da construção de competências básicas a serem desenvolvidas pelos alunos através de situações de aprendizagem planejadas a fim de contextualizar a aprendizagem e valorizar a interdisciplinaridade.

Uma das finalidades expressas nos PCNs do Ensino Médio é a “compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática no ensino de cada disciplina.”Nesse sentido cabe ao professor articular estratégias realistas que aproximem os estudantes do fazer artístico da humanidade, permitindo dessa maneira que os alunos tenham conhecimento dos aspectos mais significativos da Arte em suas diferentes manifestações.

Articular os três eixos de competências gerais com as competências básicas de artes visuais é sim possível: representação e comunicação, investigação e compreensão, contextualização sócio-cultural refletem-se na produção, na análise e no conhecimento da produção artístico-estética da humanidade, elementos essenciais no estudo das Artes.



Escolhi para análise o artigo de Regina Maria Neiva Mesquita intitulado Entre cores e formas, no papel, a diversidade com singularidade, no qual ela aborda a questão do trabalho de Artes com turmas de Educação Infantil.

Segundo a autora “Expressar graficamente pensamentos e sentimentos e provocar apreciação com compreensão sobre produção, impulsionando avanços na formação estética era o grande desafio.”

A idéia da autora de proporcionar momentos de valorização dos trabalhos realizados pelos alunos e de interação da família com a escola, através da valorização das produções dos alunos, é de extrema valia, e talvez constitua uma das grandes dificuldades do ensino com turmas de todos os níveis. Inúmeros são os relatos de alunos desmotivados com a falta de valorização dados por seus pais/responsáveis para os trabalhos que realizam, não só em Artes como nas demais disciplinas.

A autora relata alguns dos objetivos de ensino-aprendizagem ao qual se propôs: “ter contato com obras de arte em várias mídias; ampliar acervo de imagens e repertório de pintores; expressar idéias e percepções; interpretar obras explorando recursos e técnicas relacionadas às Artes Visuais ao utilizar materiais disponíveis no fazer; compartilhar dificuldades, desafios e possíveis soluções e analisar, comparar e classificar obras, reconhecendo e apreciando trabalhos de artistas e colegas.”

Como professora de crianças, identifiquei-me bastante com a proposta do artigo, uma vez que muitas das dificuldades apresentadas pela autora,encontro em minha sala de aula: a desmotivação dos alunos, a falta de valorização dos trabalhos realizados pelos alunos, a falta de criatividade uma vez que o contato com materiais e o conhecimento em Artes é mínimo. Buscar alternativas para modificar essa situação é um desafio que se propõem a inúmeros professores espalhados pelo país, nesse sentido o artigo contribui de uma forma bastante clara e inteligente, propondo atividades simples, com recursos ao alcance de todos. Gostei e selecionei idéias que pretendo aplicar.